Temas como aborto e agenda LGBT são rejeitados pela maioria da população.
Um levantamento do Ibope Inteligência indica um crescimento significativo no grau de conservadorismo do cidadão brasileiro em comparação com 2010.
Os temas propostos na pesquisa foram: casamento de pessoas do mesmo sexo, legalização do aborto, redução da maioridade penal, prisão perpétua para crimes hediondos e adoção da pena de morte.
Os entrevistados deveriam responder se o apoiam ou não cada um deles. As respostas são computadas em uma escala de zero a um, onde o valor mais baixo é atribuído ao perfil mais liberal e o mais alto, ao perfil conservador.
Para efeitos de comparação, em 2010, a média ficou em 0,657. A mesma pesquisa foi repetida em 2016, passando para 0,686. O levantamento deste ano indica uma leva alta, para 0,689. Uma análise do próprio Ibope aponta que a proporção da população com alto grau de conservadorismo cresceu de 49% em 2010 para 54% em 2016, chegando a 55% em 2018.
A estratificação dos resultados aponta que aumentou o índice de conservadorismo especialmente entre os mais velhos, os mais escolarizados, os moradores das regiões Nordeste e Centro-Oeste, com renda familiar de dois a cinco salários-mínimos.
Chama a atenção também que, acompanhando a tendência do país, o índice de evangélicos aumentou e, com isso, o fortalecimento de algumas causas específicas. Embora de modo geral a maioria da população tenha ideias mais conservadora, ocorrem alguns contrastes.
Setenta por cento dos que se declaram evangélicos são contra o “casamento homossexual”, enquanto 45% dos católicos dizem o mesmo. Já em relação ao aborto, 85% dos evangélicos entrevistados são contrários.
A CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari assegura que as principais preocupações do brasileiro hoje são: desemprego, corrupção, saúde e segurança pública. “Além dessas preocupações, estamos passando por uma crise institucional que abarca a economia, a política, o social e a moral, por isso há um desejo da reconstrução dos valores”, explica.
Crescimento na internet
A análise feita por Adriano Gianturco Gulisano, professor de ciência política do Ibmec de Minas Gerais, é que esse neoconservadorismo também é reflexo da onda antipetista e anticomunista. Nos últimos anos, ele foi se firmando após o “fracasso do governo Dilma, com débâcle econômica associada à corrupção para manutenção no poder”.
O brasileiro médio parece ter descoberto “que o marxismo não funciona e que eles são iguais aos outros, não são puros e nem mais limpos”, assegura Gulisano.
Um dos meios mais influentes na propagação das ideias conservadoras passou a ser a internet, sobretudo as redes sociais. Acabou se mostrando uma via é de mão dupla: políticos de direita, como Trump, usam os meios digitais, como Twitter, para falar diretamente aos eleitores. “O mesmo tem ocorrido no Brasil com Bolsonaro e João Amoêdo [Novo]”, lembra o professor.
Ainda segundo Gianturco, foi nas redes que grupos conservadores passaram a organizar e espalhar suas ideias, principalmente porque o pensamento marxista parece ter dominado o ambiente de escolas, universidades, sindicatos e até mesmo alas da Igreja Católica.
“Antes, as pessoas tradicionalistas e de direita estavam mais difusas, não havia lugares onde pudessem se reunir, ao contrário da elite acadêmica e jornalística, que é fortemente de esquerda, em especial na América Latina”, pontua.
A conclusão é que as plataformas digitais como WhatsApp, Facebook, Twitter e YouTube continuarão sendo vitais para que os conservadores se reúnam e se organizem, até que haja alguma mudança no sistema de ensino do país.