Com menos recursos, pré-campanhas têm optado por usar levantamentos públicos e monitorar a movimentação de usuários das redes sociais.
A pré-campanha das eleições 2018 está sendo feita com menos dados disponíveis sobre a intenção de voto do eleitor. Os registros de pesquisas públicas relacionadas à eleição presidencial no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tiveram queda de 37% em relação a 2014.
De 1º de janeiro a 26 de junho de 2018 foram registradas 88 pesquisas em âmbito nacional sobre a eleição presidencial. Há quatro anos eram 139 neste mesmo período. O número não inclui pesquisas realizadas apenas para uso interno, embora alguns dos levantamentos registrados no TSE tenham sido feitos a pedido de partidos políticos.
O número de pesquisas eleitorais este ano será menor por dois motivos: a mudança no financiamento eleitoral – que agora proíbe contribuição de empresas – e o momento econômico do País. A diminuição significa uma dificuldade maior para as coordenações de campanhas capturarem tendências entre os eleitores e planejarem suas estratégias.
Legendas pequenas, com pouca participação no fundo eleitoral, têm buscado se referenciar pelas pesquisas públicas, como as realizadas por Datafolha e Ibope, e por monitoramento de redes sociais. A pré-campanha do senador Alvaro Dias (Podemos) até agora não realizou consultas públicas. “Estamos apenas acompanhando as pesquisas dos institutos. Também contamos com updates dos candidatos nos Estados”, disse a assessoria de imprensa do candidato. A redução ocorre também em relação às pesquisas para consumo interno – que não são divulgadas em meios de comunicação. Há candidato que não fez nenhuma até o momento.
O PSOL, que contratou apenas uma pesquisa neste ano, tem medido tendências por meio de monitoramento das redes sociais feito pela própria equipe. “Com o dinheiro do fundo, temos mais recursos que nas últimas eleições, mas tenho apenas mais uma pesquisa programada. Estamos negociando contratos mais longos com empresas voltadas para as redes”, afirmou o presidente do partido, Juliano Medeiros.
Em situação de empate técnico com o líder das pesquisas de intenção de votos, Jair Bolsonaro (PSL), no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – condenado e preso pela Operação Lava Jato –, a campanha da pré-candidata Marina Silva (Rede) afirma não ter orçamento suficiente para bancar pesquisas próprias. “Nós estamos nos guiando pelos resultados públicos. No momento, não temos recursos para isso”, afirmou Andrea Gouvêa Vieira, coordenadora da campanha.
A legenda não considera as redes sociais uma boa fonte para substituir pesquisas por não haver uma análise científica, e não leva em conta esses dados no momento de tomadas de decisão. Em 2014, a campanha da presidente cassada Dilma Rousseff (PT) gastou R$ 11,3 milhões em pesquisas, segundo a prestação de contas apresentada ao TSE. Já o Diretório Nacional e Comitê Financeiro Nacional para a Presidência da República do PSDB destinou cerca de R$ 9 milhões para este fim.
Estados
As pesquisas realizadas em âmbito estadual – para eleições de governadores, senadores, deputados – também tiveram uma queda. Em 2014, haviam sido realizadas 278 pesquisas em todos os Estados. No mesmo período de 2018, foram 173, redução de 37,8%. O professor de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em sistemas eleitorais e partidos políticos, Bruno Wanderley Reis, afirma que a tendência é uma má notícia.
“Muita gente discute qual pesquisa é boa e qual não é, mas o bom é fazer muita pesquisa. Só assim teremos uma ideia melhor do cenário político. Uma quantidade menor de pesquisas piora a qualidade do debate”, disse. Para o professor, as redes sociais não são um bom parâmetro para aferir tendências, pois a amostra não é representativa da população como um todo.
Ele adiciona, ainda, que a popularidade dos candidatos na internet não se traduz necessariamente em exposição positiva. “Não tem substituto para pesquisa, o resto é só fofoca”, avalia o professor. Cláudio Couto, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), vê um impacto menor para o eleitor do que para as campanhas. Segundo ele, com menos informações, os candidatos terão que arriscar mais.
“Como o eleitor que recorre ao voto estratégico não precisa de um grande número de pesquisas, o efeito para ele pode ser marginal. Já do ponto de vista da estratégia dos partidos, é claro que você ter menos informações pode ter algum tipo de prejuízo para essa estratégia. Com isso, talvez os candidatos arrisquem mais”, afirmou.
Duílio Novaes, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), afirma que o setor como um todo não sofreu tanto com a mudança nas regras de financiamento eleitoral.